quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Nelson e Lúcia - amigos




Isso deve ter uns 4 anos. Tudo em mim pedia por uma parada geral, por um desligamento do mundo. Alguém então me falou de Nelson, Lúcia e o Avoante. Um casal que vivia em um veleiro e que poderia nos acolher por uns dias à bordo.

Em um píer no bairro da Ribeira, em Salvador, embarquei no Avoante, uma embarcação pequena, mas valente, aconchegante como casa de mãe, para 4 dias de velejadas pela Baía de Todos os Santos.

Paixão à primeira vista. Pela vela, pelo veleiro, por Nelson e Lúcia e por aquela vida tão simples e diferente da minha e que eu nem sabia que existia. Dormir ao balanço do mar, olhando apenas o clarão das estrelas, foi algo que me tocou profundamente. E a partir dali o mar da Bahia virou meu destino sempre que a correria da vida em terra permitia. A ponto de eu mesmo comprar um veleiro e acalentar sonhos de libertação por quase um ano.

Certo dia, recebo a notícia de que haviam vendido o Avoante. Tinham vivido nele por mais de 10 anos, mas era necessário. Aquele não era apenas um barco, era um pedaço de suas almas, era o ente tangível que lhes ancorava um modo de vida.

A tristeza me bateu. Não conseguia ver Nelson e Lúcia em terra firme. Temi por sua felicidade, desconfiei que não conseguiriam mais se adaptar.

Hoje, vez por outra, entra uma mensagem de whatsapp do “Comandante”, direto de sua casa na praia de Enxu Queimado, no litoral do Rio Grande do Norte. Às vezes é uma foto das delícias preparadas por Lúcia, às vezes um post do preservado e ativo Diário do Avoante (diariodoavoante.wordpress.com), ou às vezes apenas uma bela foto da natureza deslumbrante do lugar com um sincero “Bom dia, meu amigo”.

Nunca senti em sua voz uma ponta de ressentimento. Nunca um tom de melancolia, nunca um maldizer a vida, sempre a mesma alegria, generosidade e simplicidade que conheci e aprendi a admirar a bordo do Avoante.

Obrigado por mais uma lição, além da vela, Comandante!


Zé Mauro Nogueira







2 comentários:

  1. Caro e bom amigo, você disse que tinha escrito, mas não adiantou para preparar os olhos e voz para não denunciarem a emoção. - O que temos mais a dizer? - Claro, muito obrigado e um beijo, Lucia e Nelosn

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