Como dizem os MadDogs, viver é desenhar sem uma borracha.
Não dá para voltar atrás, não dá para desfazer o que está feito, não dá para
retirar palavra dita. E Deus pode até abrir uma janela quando se fecha uma
porta, mas esta, uma vez fechada, não torna a abrir.
E aprendi isso da única maneira possível: sofrendo por uma
porta que eu mesmo fechei cometendo erros que não poderia ter cometido. É a
vida impondo limites, dizendo não, ensinando que há coisas que não se pode
mesmo fazer, que há coisas delicadas que se quebram para sempre.
Confesso que custei a aprender. Jovem, sempre achei que tudo
tinha jeito, que sempre conseguiria o que eu queria, que sempre haveria uma
forma de consertar as coisas. Até o primeiro e peremptório "não". A partir daí entendi: bem vindo à vida
adulta, onde tudo tem um preço e consequência.
Às vésperas de completar 50 anos, reflito sobre a vida mais
do que de costume. Não buscando um sentido, mas buscando compreensão, que, para
mim, é o próprio sentido. Aprender me parece ser o propósito. As escolhas e
suas renúncias, os equívocos e suas dores, os amores e suas decepções, os medos
e desejos, tudo parte de um processo de aprendizado intensivo e incessante.
E apesar de ter vivido tanto, ainda me surpreendo com a
vida, que sempre traz algo novo. Tudo para que possamos continuar aprendendo,
crescendo, evoluindo. Não importa se temos 50 anos ou 18.
Tornar-me mais independente e verdadeiramente livre para
escolher faz parte do que ainda pretendo. Que todos possamos buscar a
capacidade de escolher libertos de compulsões, vícios, medos, padrões de
comportamento condicionados e auto destrutivos. Que possamos nos fazer
inteiros, plenos de nós mesmos e capazes de amar verdadeiramente e não apenas
desejar.
E que as linhas que traçamos sejam cada vez mais firmes,
belas e autênticas, desenhadas com a sabedoria que a vida nos permite buscar.
Zé Mauro