Moro há quase 20 anos em uma cidade até bem pouco tempo
considerada pequena e tranquila: Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Mas
não é bem assim. Não mais.
Natal, assim como todas as cidades brasileiras, sofre com as
consequências de um processo de crescimento desordenado, não planejado, e
carente de um conceito definido de urbanização e mobilidade urbana. Como diriam alguns em lá em
Itajaí, cresceu à moda “caraio”.
Quando se observa o padrão americano, com exceção de Nova
Iorque, fica clara uma opção pelo automóvel. Cidades grandes em extensão territorial,
com um número enorme de autopistas, muito espaço e grandes distâncias. Tudo
feito para se andar de carro e para os carros poderem, de fato, andar.
Quando se observa o padrão das grandes cidades europeias,
fica clara uma opção pelo transporte público. Cidades mais concentradas em área
ocupada, tudo um pouco mais perto, passível de se andar, mas com muitas opções
de transporte público de massa e de boa qualidade, sobretudo metrô. Em cidades
como Londres e Paris, ter um carro é um estorvo e um luxo.
Mas e nós, qual o nosso padrão? Nenhum! Meio que adotamos o
padrão americano baseado no automóvel, mas não fizemos as vias necessárias para
os carros trafegarem. E temos cidades com características parecidas com as europeias,
com grande concentração demográfica, que dificultam ou impossibilitam a
construção ou alargamento de vias. Só que, por traço cultural ou ranço, não
priorizamos o transporte público.
O resultado é esse que nos massacra diariamente. Imobilidade
urbana, seja para quem tenta ir de carro ou para quem sofre tentando ir de
ônibus. E, para piorar, ainda há o jeito brasileiro de ser. Essa coisa de ser
tudo “eu primeiro”, essa total e absoluta falta de respeito à coletividade,
essa chaga de querer ser mais esperto o tempo todo e querer levar vantagem
sobre todos os outros em cada corriqueira circunstância, que torna o trânsito
no Brasil um espetáculo único de falta de educação, de prepotência e estupidez
humana.
Em outras palavras, não podemos copiar os Estados Unidos, e
nem nos passou pela cabeça tentar copiar a Europa. Ficamos no limbo, no pior
dos dois mundos. Nem barro, nem tijolo.
Zé Mauro Nogueira