quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nem barro, nem tijolo

Moro há quase 20 anos em uma cidade até bem pouco tempo considerada pequena e tranquila: Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Mas não é bem assim. Não mais.

Natal, assim como todas as cidades brasileiras, sofre com as consequências de um processo de crescimento desordenado, não planejado, e carente de um conceito definido de urbanização e mobilidade urbana. Como diriam alguns em lá em Itajaí, cresceu à moda “caraio”.

Quando se observa o padrão americano, com exceção de Nova Iorque, fica clara uma opção pelo automóvel. Cidades grandes em extensão territorial, com um número enorme de autopistas, muito espaço e grandes distâncias. Tudo feito para se andar de carro e para os carros poderem, de fato, andar.

Quando se observa o padrão das grandes cidades europeias, fica clara uma opção pelo transporte público. Cidades mais concentradas em área ocupada, tudo um pouco mais perto, passível de se andar, mas com muitas opções de transporte público de massa e de boa qualidade, sobretudo metrô. Em cidades como Londres e Paris, ter um carro é um estorvo e um luxo.

Mas e nós, qual o nosso padrão? Nenhum! Meio que adotamos o padrão americano baseado no automóvel, mas não fizemos as vias necessárias para os carros trafegarem. E temos cidades com características parecidas com as europeias, com grande concentração demográfica, que dificultam ou impossibilitam a construção ou alargamento de vias. Só que, por traço cultural ou ranço, não priorizamos o transporte público.

O resultado é esse que nos massacra diariamente. Imobilidade urbana, seja para quem tenta ir de carro ou para quem sofre tentando ir de ônibus. E, para piorar, ainda há o jeito brasileiro de ser. Essa coisa de ser tudo “eu primeiro”, essa total e absoluta falta de respeito à coletividade, essa chaga de querer ser mais esperto o tempo todo e querer levar vantagem sobre todos os outros em cada corriqueira circunstância, que torna o trânsito no Brasil um espetáculo único de falta de educação, de prepotência e estupidez humana.

Em outras palavras, não podemos copiar os Estados Unidos, e nem nos passou pela cabeça tentar copiar a Europa. Ficamos no limbo, no pior dos dois mundos. Nem barro, nem tijolo.


Zé Mauro Nogueira




sábado, 7 de fevereiro de 2015

What´s up?

Resolvo dar uma passada pelas notícias de um grande portal e ao final de 10 minutos fecho o laptop e fico olhando o céu perder a cor. A tarde de sábado vai chegando ao fim e eu me aconchego no balanço da rede.

Fiquei muitos minutos em silêncio, apenas respirando, tentando esvaziar a cabeça, não pensar em nada, apenas desejando ter a sabedoria e a técnica budista de alcançar o estado de paz pela meditação. Ler as matérias de um grande portal e, mais ainda, os comentários das pessoas, me causou uma profunda sensação de desalento, de desconexão.

Só depois de escutar música boa e ler um pouco de Mário Quintana voltei a ter alguma esperança. No homem e na minha capacidade de me manter conectado a este mundo. A coragem de ser seletivo e a força para manter-se autêntico são a chave da sobrevivência nestes tempos de supremacia da pasteurizada idiotice exibicionista.

Falta de água, corrupção, violência e estupidez no futebol, carestia de combustível, mulheres mostrando a bunda por um minuto de fama, nada disso é novo, a despeito do que pensam os que não pensam. Lixo, de fato, mas sempre reciclado e vendido como a última novidade, de acordo com o interesse de um “pensamento” conservador, covarde, mesquinho e tacanho.

Não vejo a menor novidade na “jornalista” Silvia Pilz e seus textos preconceituosos (e ainda por cima ruins). Imbecis estão por todas as esquinas e sempre tiveram mais ou menos notoriedade. Não vejo também nenhuma novidade nessas “descobertas” de corrupção, sobretudo neste país, corrupto até a alma, desde a fila do cinema até o desconto sem nota fiscal. O que muda é o interesse e a liberdade de noticiar, coisa que essa “inteligência” toda não é capaz de perceber. Enfim, mais do mesmo (e pensar que um dia acreditamos em uma alternativa diferente....).

Talvez o que seja novo, embora não me surpreenda, é o orgulho em ser another brick in the wall. Como as pessoas adoram exibir seu “pensamento” obtido nas headlines dos maiores portais ou lidos nos perfis dos “formadores de opinião”. Porque opinião é tudo hoje. Porque imagem é tudo. Porque popularidade é tudo em tempos de redes sociais.

Eu, do meu lado, preciso aprender a ser louco, maluco total, como disse o Raulzito. Só na poesia, na música e nas artes reconheço o humano que ainda me atrai.

Zé Mauro Nogueira