Todo mundo que se preze acha sua mãe a melhor do mundo. Nem
sei se eu me prezo, mas a minha mãe é a melhor do mundo.
A gente passou por muitos perrengues juntos, sobretudo na
infância, em Belém do Pará. Minha mãe lutou muito para nos sustentar e as coisas
às vezes ficavam críticas. Ficar sem energia elétrica, morar em casa sem água
encanada, almoçar açaí com farinha, economizar margarina, tudo isso são coisas
que me lembro bem. E que ao invés de causarem revolta, sempre me fizeram querer
ainda mais ficar perto e ajudar, ao invés de correr para o luxo do meu pai.
Mas se tinha uma coisa que incomodava a mim e ao meu irmão
era o cigarro. Ela fumava demais. A gente, antevendo legislação que só viria
chegar décadas depois, costumava desenhar caveiras nas carteiras de cigarro
dela na tentativa de sensibilizá-la. Em vão. Nunca nos atendeu nisso.
Até que, há uns 10 anos atrás, mais ou menos, quando veio
morar em Natal, sua cadela Suzy fugiu de casa. Desapareceu. Minha mãe ficou
inconsolável, não comia, não parava de chorar. Utilizei meus contatos e
consegui colocar na TV um apelo com foto e tudo da cadelinha. Confesso que não
tinha esperança alguma, julgava que tinha sido atropelada. Mas, para minha surpresa,
dois dias depois, alguém liga para dar notícia. Fui resgatar Suzy em Parnamirim,
já devidamente rebatizada de “Xuxa”.
Mas surpresa maior mesmo eu tive quando, dias depois,
percebi que ela não estava mais fumando. Havia feito promessa e estava
cumprindo. Depois de quase 40 anos de tabagismo, depois de ignorar solenemente
o apelo dos filhos, a danada deixa de fumar por causa de uma cachorra.
Anos depois, já em Itajaí, me cortou o coração vê-la fumando
de novo.
Ainda bem que agora tem o Ravel e ele vive querendo escapar.
Quem sabe?
Zé Mauro Nogueira