Somos um país de malucos. Um
bando de loucos, apesar de nem todo mundo ser corintiano. Há coisas no Brasil
que só mesmo aqui poderia acontecer. De Gaulle foi muito criticado por dizer
que este não é um país sério, mas, cá pra nós, que ninguém nos ouça, este não é
mesmo um país sério, vai.
E não é de hoje. Lendo o livro do
Laurentino Gomes, vi uma carta que um inglês mandou para seu país alertando
para a desonestidade e preguiça dos brasileiros, na opinião dele, nada
confiáveis na hora de negociar. Isso era 1822.
Aqui se rouba e derrete o mais
cobiçado dos troféus do esporte, a Copa do Mundo, orgulho da nação; aqui ladrão
vira celebridade; aqui motorista buzina se você evita bloquear o cruzamento;
aqui se toleram as maiores filas do mundo, mas não se tolera esperar o sinal
abrir; aqui neguinho faz merda e fica furioso se lhe chamam atenção; aqui se
falsifica remédio e a pirataria é negócio sério.
É o país onde liberdade se
confunde com liberalidade e todo mundo acha que as leis só valem para os
outros. O mesmo cara que abre a boca para chamar político de corrupto, molha a
mão do guarda quando é pego dirigindo embriagado.
Não gosto nada do Jabor, mas uma
vez ele disse algo que me pareceu bem observado. Nos Estados Unidos quando
alguém está querendo dar um “jeitinho” logo aparece alguém para perguntar: “Quem
você pensa que é?”. Isso denota senso de coletividade, ninguém deveria ser mais
importante que o grupo. Aqui no Brasil a frase mais usual é dita pelo próprio “esperto”
se alguém ousar obstaculizar suas intenções: “Você sabe com quem está falando?”.
Ou seja, dane-se a coletividade, o indivíduo acima do todo.
Um país que tem o desrespeito às
regras em seu DNA, e que com uma ponta de orgulho batizou essa característica
de “jeitinho brasileiro”. Romanticamente cantado como malandragem, como um
jeito criativo de viver.
Este é o país onde se faz o que
se pode, quase nunca o que tem de ser feito. É um país em que o código penal
privilegia o criminoso, passando-lhe a mão na cabeça com atenuantes tantos que
pouca gente cumpre pena. O jornalista Pimenta Neves, assassino confesso, passou
até agora apenas seis meses preso. Deve passar mais dois anos e aí, regime semi
aberto. A dor da família da vítima, o exemplo para a sociedade? Nada,
coitadinho, ele tem o direito de recomeçar, de ter uma segunda chance.
Não adianta ir para a rua bradar
por mudança dos políticos. Os políticos somos nós, gente como a gente, espelho
desta sociedade corrupta e avessa ao cumprimento de regras. Corrupção também
não foi inventada pelo PT, isso é pensar pequeno e com o raciocínio embotado
pela ideologia e pelo preconceito, é ser papagaio de revista Veja. O PT não é
pior do que qualquer partido. Só que também não é melhor, como sempre pregou.
Mudar o Brasil é mudar a si mesmo.
Cada um de nós. É fazer o que é certo, cumprir as regras, respeitar a
coletividade, o espaço e o direito do outro. Enquanto cada um não se enxergar
parte do problema, não vai ser parte da solução também. O problema é sempre o
outro. E segue o bonde, descendo a ladeira.