quarta-feira, 31 de julho de 2013

O problema é o outro

Somos um país de malucos. Um bando de loucos, apesar de nem todo mundo ser corintiano. Há coisas no Brasil que só mesmo aqui poderia acontecer. De Gaulle foi muito criticado por dizer que este não é um país sério, mas, cá pra nós, que ninguém nos ouça, este não é mesmo um país sério, vai.

E não é de hoje. Lendo o livro do Laurentino Gomes, vi uma carta que um inglês mandou para seu país alertando para a desonestidade e preguiça dos brasileiros, na opinião dele, nada confiáveis na hora de negociar. Isso era 1822.

Aqui se rouba e derrete o mais cobiçado dos troféus do esporte, a Copa do Mundo, orgulho da nação; aqui ladrão vira celebridade; aqui motorista buzina se você evita bloquear o cruzamento; aqui se toleram as maiores filas do mundo, mas não se tolera esperar o sinal abrir; aqui neguinho faz merda e fica furioso se lhe chamam atenção; aqui se falsifica remédio e a pirataria é negócio sério.

É o país onde liberdade se confunde com liberalidade e todo mundo acha que as leis só valem para os outros. O mesmo cara que abre a boca para chamar político de corrupto, molha a mão do guarda quando é pego dirigindo embriagado.

Não gosto nada do Jabor, mas uma vez ele disse algo que me pareceu bem observado. Nos Estados Unidos quando alguém está querendo dar um “jeitinho” logo aparece alguém para perguntar: “Quem você pensa que é?”. Isso denota senso de coletividade, ninguém deveria ser mais importante que o grupo. Aqui no Brasil a frase mais usual é dita pelo próprio “esperto” se alguém ousar obstaculizar suas intenções: “Você sabe com quem está falando?”. Ou seja, dane-se a coletividade, o indivíduo acima do todo.

Um país que tem o desrespeito às regras em seu DNA, e que com uma ponta de orgulho batizou essa característica de “jeitinho brasileiro”. Romanticamente cantado como malandragem, como um jeito criativo de viver.

Este é o país onde se faz o que se pode, quase nunca o que tem de ser feito. É um país em que o código penal privilegia o criminoso, passando-lhe a mão na cabeça com atenuantes tantos que pouca gente cumpre pena. O jornalista Pimenta Neves, assassino confesso, passou até agora apenas seis meses preso. Deve passar mais dois anos e aí, regime semi aberto. A dor da família da vítima, o exemplo para a sociedade? Nada, coitadinho, ele tem o direito de recomeçar, de ter uma segunda chance.

Não adianta ir para a rua bradar por mudança dos políticos. Os políticos somos nós, gente como a gente, espelho desta sociedade corrupta e avessa ao cumprimento de regras. Corrupção também não foi inventada pelo PT, isso é pensar pequeno e com o raciocínio embotado pela ideologia e pelo preconceito, é ser papagaio de revista Veja. O PT não é pior do que qualquer partido. Só que também não é melhor, como sempre pregou.

Mudar o Brasil é mudar a si mesmo. Cada um de nós. É fazer o que é certo, cumprir as regras, respeitar a coletividade, o espaço e o direito do outro. Enquanto cada um não se enxergar parte do problema, não vai ser parte da solução também. O problema é sempre o outro. E segue o bonde, descendo a ladeira.

Zé Mauro Nogueira